Ana Rita Teodoro e João dos Santos Martins

RESIDÊNCIA
ANA RITA TEODORO e JOÃO DOS SANTOS MARTINS
2 – 11 dezembro 2024

 

TROCA O PASSO

A expressão “troca o passo” usa-se para indicar a segunda parte de uma data sem um ano definido, geralmente em relação a datas consideradas antigas (ex.: foi em mil seiscentos e troca o passo). A expressão também pode ser utilizada literalmente e significar apenas trocar de pé, para acertar o passo com a outra pessoa. Nesse caso, trocar o passo, da direita para a esquerda, ou vice-versa, permite acompanhar o mesmo ritmo, ou pelo menos a mesma cadência coreográfica. O princípio da coreografia social é acertar o passo, ou trocar para baralhar. Há quem não consiga andar ao lado de outra pessoa sem acertar o passo. Faz-lhes confusão pois sentem-se descompassados.

Troca o Passo faz parte de uma série de duetos (iniciada em 2020 com Trolaró) que Ana Rita Teodoro e João dos Santos Martins desenvolvem como pretexto para pesquisar e se reciclarem fisicamente enquanto artistas-bailarinos. A característica destes trabalhos é serem desprendidos da máquina de produção dos espetáculos e por isso mantêm um caráter experimental mas generoso.

Este dueto, parte de uma reflexão próxima à prática do “caminhar” na dança japonesa butô, nomeadamente a partir de Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno, e também, da metáfora da flor desenvolvida por Zeami na prática do Teatro Nô e amplamente explorada pela vanguarda japonesa.

Caminhar é o traço presente de uma história que já começou, o desabrochar e o desvanecer de uma forma em andamento. É possível avançar no passo mantendo uma relação com buracos negros da história? As curvas elípticas do mundo sugam-nos para registos arqueológicos. Avançamos e recuamos, acertamos o passo e estamos atrasados, corremos e estamos adiantados, paramos mas continuamos a ir.


 

Coreografia e performance: Ana Rita Teodoro e João dos Santos Martins

Luz e elementos cenográficos: Filipe Pereira

Produção executiva e administração: Lysandra Domingues e Sofia Lopes | Associação Parasita

Residências: Casa da Dança, Espaço Parasita, Hijikata-Nakanishi Memorial Saruhashi Studio (Japão)

Apoio: NPO Dance Archive Network

Produção: Associação Parasita

A Parasita é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direcção-Geral das Artes no biénio 2023-2024.


Ana Rita Teodoro (Barreiro, Portugal, 1982) é mestra em Dança, Criação e Performance pelo CNDC de Angers e a Universidade Paris 8, desenvolveu como pesquisa a criação de uma Anatomia Delirante. Mais recentemente, desenvolveu uma pesquisa em torno da transmissão da dança butoh com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do CND (Centre National pour la Danse, França) que se concluiu na conferência dançada Your Teacher, Please. Estudou o corpo através das disciplinas de anatomia, paleontologia e filosofia no c.e.m. com Sofia Neuparth, e o Chi Kung na Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa. Criou as peças MelTe, Orifice Paradis, Sonho d’Intestino, Palco, Assombro e FoFo. Colabora com diferentes artistas em projetos pontuais. Foi artista associada do CND entre 2017-2019 e é atualmente artista associada da Associação Parasita.

 

João dos Santos Martins é artista. Estudou na Escola Superior de Dança (Lisboa), na P.A.R.T.S.  (Bruxelas), no e.x.er.c.e, (Montpellier) e no Instituto para Estudos Aplicados ao Teatro (Giessen). O seu trabalho, geralmente desenvolvido em processos colaborativos, abrange várias formas que focam a dança, seja através da coreografia, da exposição ou da edição. Essas formas são atravessadas por questões que concernem genealogias da história da dança, processos de transmissão, a relação entre prática e discurso, e paradoxos sobre a atividade de dançar. Juntamente com Ana Bigotte Vieira, criou um dispositivo para o mapeamento colectivo da dança em Portugal — Para Uma Timeline a Haver.  Dançou em trabalhos de Ana Rita Teodoro, Eszter Salamon, Moriah Evans, Xavier Le Roy, Jérôme Bel, Manuel Pelmuş, Rui Horta, entre outros. Fundou a Parasita em 2014, uma cooperativa de artistas de que faz parte.